O EGO POR TRÁS DO COMPLEXO DO SALVADOR
Ajudar o próximo é um ato de altruísmo. Principalmente quando o outro está em apuros. Entretanto, traçar limites dentro de cada situação não é apenas necessário, mas saudável para as partes relacionadas.
O complexo de salvador, também conhecido como co-dependência ou síndrome do herói, é um transtorno psicológico não elencado pelo DSM.
Trata-se de um padrão de comportamento no qual o indivíduo sente a necessidade constante de priorizar os outros, assumindo responsabilidades além de seus limites ou capacidades em detrimento, por vezes, do seu próprio bem-estar.
Embora seja uma condição mental que atinga todos os gêneros, seu público alvo é o sexo feminino. Visto que, em razão da cultura tradicional, as mulheres foram ensinadas desde a infância, a serem prestativas e gentis, devendo estar sempre disponíveis para servir, independentemente da ocasião.
O lado prejudicial dessa prestabilidade contínua, é a ausência de atenção e cuidados próprios.
FATORES DESENCADEANTES: EFEITOS ESTRESSORES
Depreende-se que a origem desse "heroísmo" resulta de eventos traumáticos que geraram feridas emocionais de rejeição, abandono, traição, humilhação dentre outras.
Crianças parentificadas - que tiveram que assumir incumbências de adultos, antes da evolução física, mental e emocional, também estão propensas ao surgimento.
Sendo uma circunstância de co-dependência emocional, há uma inclinação atrativa de relacionamentos abusivos.
Trazendo para o círculo familiar, mães superprotetoras são capazes de atrapalharem o desenvolvimento e autonomia de seus próprios filhos. No tocante ao parceiro, usurpa seu papel, causando desequilíbrio dentro da união.
UM HERÓI QUE PRECISA DE SOCORRO
A empatia, disposição e ação podem apontar para um passado de escassez que repercutiu em experiências as quais permitem o salvador "entender" o carecimento alheio, fazendo com que se sinta "apto" o suficiente para atos de heroísmo.
No entanto, o medo de desagradar, ser abandonado, rejeitado, não valorizado e traído, ocasionará um esgotamento emocional, podendo resultar em burnout, depressão e doenças psicossomáticas, já que não há tempo e disposição para tratar de si mesmo.
Na verdade, há um ego inflado por detrás do vitimismo. Apesar de se colocar em segundo plano, a fim de atender vontades alheias continuadamente, há uma satisfação interna, pelo esforço e dedicação desempenhados. Haja vista o reconhecimento, aprovação e gratidão alimentarem seu desejo por controle da situação e autoritarismo, sentimento de aceitação e pertencimento naquela relação afetiva ou social, o que lhe tendencia à busca por pessoas que sempre estejam precisando de apoio ou auxílio.
No oculto, subsiste uma aflição na alma, pois, todavia ao amparar, o inconsciente apenas grita por acolhimento, proteção e reparo.
A CONEXÃO ENTRE O SALVADOR E O "PERDIDO"
O serviço e o agradecimento deveriam andar de mãos dadas. Contudo, nem sempre assim acontece.
A ideia do salvador, de ser essencial na vida de alguém, pode lhe trazer ainda frustração, insatisfação, raiva, irritação, angústia e ansiedade. Isso se deve ao fato de que o outro, nem sempre agirá com reciprocidade, o que lhe acarretará sobrecarga física, emocional, mental, financeira e etc. Além da possibilidade de existir chantagens, abusos físicos ou psicológicos e cobranças indevidas por qualquer um deles.
Em contrapartida, "aquele que precisa ser salvo", poderá sentir-se preso nesse liame tóxico, o qual lhe gerará também, uma dependência do salvador para agir ou tomar decisões, por simplesmente se enxergar como alguém impotente ou insuficiente, esvanecendo sua própria identidade, manifestando uma baixa autoestima.
DESVENCILHANDO DO EXTREMISMO
Aplicar as dicas abaixo, embora não sejam únicas, e também não dispensam a ajuda profissional adequada, pode melhorar a situação da dependência emocional em comento.
1. Identificar tais atitudes, através da auto-observação, tratando-se e privilegiando a si.
2. Ajudar quem precisa é necessário e faz bem a todos, desde que não haja dano à saúde psicológica e física dos envolvidos.
3. Dizer NÃO e impor barreiras não torna alguém desumano.
4. Ninguém pode salvar outrem, a não ser a si próprio. Cada um é responsável por suas escolhas: ações e reações, e por intermédio delas, extrair seu significado, crescimento e aprendizado.
5. A felicidade e contentamento sempre estarão primeiramente no interior da mente. O próximo somente complementará o que já deve existir.
Por L. Rachel
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